O combo de feriado de 1º de maio (Dia do Trabalhador) com o show gratuito da cantora Lady Gaga em Copacabana provocou uma explosão nos preços das passagens de ônibus entre São Paulo e Rio de Janeiro, com aumentos que chegaram a 400%.
A comparação feita pela IstoÉ Dinheiro revela que, enquanto no sábado, 31 de maio, uma passagem semileito poderia ser encontrada por R$ 89,90, no feriado os valores saltaram para até R$ 459,90. A pesquisa, realizada na plataforma QueroPassagem e confirmada nas bilheteiras, avaliou o embarque a partir da Rodoviária do Tietê logo após a meia-noite, um horário de alta procura para quem deseja aproveitar a viagem noturna.
Entre as viações, a Águia Branca apresentou o maior preço: R$ 899,99 para o serviço leito cama no dia 1º de maio. No mesmo trajeto e categoria, o valor no dia 31 de maio cai para R$ 239,90. Empresas como 1001 e Expresso do Sul também tiveram elevações significativas, cobrando entre R$ 509,99 e R$ 569,99 nas categorias mais confortáveis.
A elevação das tarifas é amparada pela resolução nº 4770/2015 da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que autorizou a precificação dinâmica desde 2019. Com isso, múltiplas empresas podem explorar o mesmo trajeto e definir preços de acordo com fatores como demanda, concorrência e até previsão do tempo, analisados por ferramentas de inteligência artificial.
“Hoje, as ferramentas de tecnologia e inteligência artificial estão completamente inseridas no negócio”, explica Leticia Pineschi, conselheira fiscal da Abrati (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros).
A explosão da procura após o anúncio do show de Lady Gaga também impactou diretamente as vendas: dados da ClickBus indicam alta de 521% nas buscas por passagens em relação ao fim de semana anterior.
O secretário-executivo da Anatrip (Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiro), Gabriel Oliveira, defende as variações: “É uma forma que o setor encontrou para manter o equilíbrio financeiro e continuar operando com qualidade”.
Nos últimos anos, mudanças no perfil dos passageiros também impulsionaram essas transformações. Entre 2021 e 2024, aumentou a preferência por ônibus das categorias leito e semileito, enquanto executivos e convencionais perderam espaço. Segundo o diretor da FGV Transportes, Marcus Quintella, “hoje o usuário já tem um melhor poder aquisitivo, prefere viajar à noite dormindo e realiza mais viagens curtas”.
Ainda que a legislação permita a precificação variável, as empresas devem respeitar tetos tarifários calculados pela ANTT, considerando custos como combustíveis e inflação. Caso o consumidor identifique prática abusiva, pode registrar denúncia junto à agência reguladora ou a órgãos de defesa do consumidor.
“O ônibus vazio, além de não ser rentável, é ecologicamente péssimo”, lembra Leticia Pineschi, destacando a estratégia de ocupação máxima adotada pelas viações.
Em comparação ao transporte aéreo, os ônibus seguem competitivos e oferecem capilaridade maior: enquanto a malha aérea brasileira atende cerca de 120 destinos, o sistema rodoviário alcança 6.800 localidades, segundo levantamento do Google em parceria com a ClickBus.
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