
Edson Feliciano Marcondes, o Nêgo, de 69 anos, é um dos poucos intérpretes veteranos em atividade na folia carioca. Seu irmão, Neguinho da Beija-Flor, 76, por exemplo, se aposentou dos microfones no desfile campeão da escola de Nilópolis no último carnaval. Depois de embalar o título inédito da Série Ouro da Acadêmicos de Niterói, Nêgo se diz “chateado“: pela terceira vez, em quatro anos, o artista é demitido da escola que ajudou a chegar ao Grupo Especial.
— Eles (da Acadêmicos de Niterói) me mandaram embora. O desfile foi maravilhoso, eles foram campeões, e mandaram quase todo mundo embora. Querem fazer outra escola, não sei nem o que falar. Fiz um trabalho árduo, duro, ensaiei direto, imprimi o máximo que pude…. Pensei em subir (para o Grupo Especial) e me levarem. Estou cansado disso — desabafa Nêgo, que foi anunciado na última quarta-feira como o novo intérprete da Botafogo Samba Clube, escola que irá para seu segundo ano na Série Ouro.
Depois de vencer a Série Ouro com o Império Serrano (2022) e a Porto da Pedra (2023), mas ser demitido em seguida, sem poder puxar os sambas das escolas no Grupo Especial, Nêgo defendeu a União da Ilha no ano passado. Na ocasião, chegou a afirmar que incluiu no contrato uma cláusula de que deveria receber uma quantia em dinheiro se não fosse mantido no Grupo Especial, em caso de acesso. Mas o título foi para a Unidos de Padre Miguel na ocasião.
Para o último carnaval, Nêgo, morador de Niterói, conta que chegou a fazer um acerto “de boca” com a escola de sua cidade: se subisse para o Grupo Especial, que ele fosse mantido, o que não ocorreu.
— Já faz tempo (a última vez foi com a Imperatriz, em 2015) que não volto para o Especial. Gostaria de voltar, só que sou dispensado e botam outra pessoa no meu lugar — observa Nêgo, que fará 70 anos em agosto. — Talvez possa ser pela idade, por um preconceito.
‘Quero me aposentar fazendo um grande desfile’, diz Nêgo
Nêgo, vencedor de cinco Estandartes de Ouro de melhor intérprete, empatado na liderança com Ito Melodia, Neguinho da Beija-Flor e Jamelão, diz que pode “trabalhar por muitos anos” ainda. Agora, em Alvorada, no Rio Grande do Sul para desfilar com uma escola local, o puxador diz que chegará ao Rio na próxima terça-feira para alinhar seu acerto com a Botafogo Samba Clube.
O intérprete afirma que, assim como fez seu irmão na Beija-Flor, seu desejo é de encerrar a carreira na elite do carnaval. Ele também menciona Jamelão, da Mangueira, que passou dos 90 anos defendendo os sambas da Mangueira, como exemplo.
— O Neguinho se aposentou sendo campeão no Grupo Especial. Eu também quero me aposentar fazendo um grande desfile no Grupo Especial, mas não consigo completar meu destino. Estou lutando (para voltar à elite), já subi três escolas, fiz grandes desfiles com as três, e não sei por que estão me punindo direto — conclui o puxador, que inicia seus desfiles com um “Alô povão, agora é sério”.
As informações são do Jornal Extra.
foto de capa: Foto: Gabriel Santos/RioTur.